
Um marco significativo foi alcançado nesta quinta-feira (18), com o anúncio do sétimo caso de remissão do HIV. O paciente, um homem de 60 anos de idade e nacionalidade alemã, não apresenta mais vestígios do vírus após ter se submetido a um transplante de medula óssea. Os resultados foram revelados em um estudo divulgado antes da 25ª Conferência Internacional sobre a Aids, agendada para a próxima semana.
Conhecido informalmente como o “novo paciente de Berlim”, em homenagem ao pioneiro Timothy Ray Brown, o primeiro a ser curado do HIV em 2008, este homem foi diagnosticado com o vírus em 2009. O transplante de medula óssea, realizado em 2015 para tratar leucemia, permitiu que ele interrompesse o tratamento antirretroviral no final de 2018. Quase seis anos após essa interrupção, não há carga viral detectável, confirmam os pesquisadores.
Ricardo Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que, embora o termo “cura” seja usado popularmente, o mais correto atualmente seria falar em “remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais”.
“Isso significa que o tratamento foi suspenso e o vírus não retornou. Em alguns casos, temos evidências fortes de que o vírus foi eliminado completamente, sem deixar qualquer vestígio ou indício de latência”, afirma Diaz.
O especialista ressalta a necessidade de pelo menos dois anos de monitoramento para confirmar que o HIV não retorna na ausência de tratamento antirretroviral. Ele também lamenta que os métodos atuais de monitoramento sejam limitados em comparação com a idealização de uma técnica mais precisa, como um “Raio-X” do corpo para verificar a ausência do vírus.
Todos os casos de remissão relatados até agora, exceto um, envolveram transplantes de células-tronco de doadores com uma mutação rara no gene CCR5, que impede a entrada do HIV nas células. O “novo paciente de Berlim” é notável por ter recebido células-tronco de um doador com apenas uma cópia mutante, uma configuração mais comum que pode abrir caminho para mais doadores potenciais.
Menos de 1% da população possui essa mutação genética protetora contra o HIV, tornando a compatibilidade com doadores de medula óssea extremamente rara.
“Embora esses casos possam ser considerados como ‘remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais’ ou até mesmo ‘cura esterilizante’, é essencial acompanhar de perto esses pacientes indefinidamente para garantir que não haja recidiva do vírus”, conclui Diaz.
Além dos casos mencionados, dois outros exemplos notáveis são os das pacientes da Argentina, de 30 anos, e de São Francisco, nos Estados Unidos, de 67 anos, reconhecidas como “controladoras de elite” do HIV, capazes de manter uma “cura funcional” do vírus sem medicamentos.
“A cura funcional implica em controlar o vírus de forma que não represente ameaça à saúde. Essas pessoas, conhecidas como controladoras de elite, são raras, ocorrendo em apenas 1% a 3% dos casos”, explica Diaz.
O HIV, quando infecta o organismo, insere seu material genético nas células, que o reproduzem juntamente com suas próprias cópias. Nos controladores de elite, o sistema imunológico elimina essas células infectadas antes que novos vírus possam ser liberados, utilizando uma estratégia conhecida como “choque e destruição”.
Enquanto a maioria das pessoas infectadas requer terapia antirretroviral para “acordar” e eliminar o vírus latente, os controladores de elite conseguem esse controle naturalmente, sem necessidade de medicamentos.